quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Saudade

"Trancar o dedo numa porta dói
Bater com o queixo no chão dói
Torcer tornozelo dói
Um tapa, um soco, um pontapé, doem
Dói bater a cabeça na quina da mesa,
Dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de irmão que mora longe
Saudade de uma cachoeira da infância
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu
Saudade de uma cidade
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa
Doem essas saudades
Mas a saudade mais dolorida
É a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos
Você podia ficar e ele no quarto,
mais sabiam-se lá.
Você podia ir ao dentista e ela a faculdade,
mas sabiam-se onde.
Você podia  ficar o dia sem vê-la,
Ela o dia sem vê-lo,
Mas sabiam-se do amanhã
Contudo, quando o amor de um acaba,
Ou torna-se menor, o outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia
Não saber se ela ainda usa aquela saia
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada
Se ele tem assistido as aulas de inglês, se aprendeu a entrar na internet
Se ela continua preferindo suco
Se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados
Se ela continua dançando daquele jeito enlouquecedor.
Saudade é não saber mesmo
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento
Não saber como frear as lágrimas diante da música
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ele está com outro, e ao mesmo tempo tempo querer
É não saber se ele está feliz, é ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É querer saber se ele está mais magro e ela mais bela
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade éisso que senti enquanto estiver escrevendo e o que você, provavelmente está sentindo agora que acabou de ler."
Martha Medeiros

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